quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Ciro: “Vou dizer com todas as letras: ‘Zé Dirceu, vai pastar!’ ”


19h24 - 03/02/2010

Ciro: “Vou dizer com todas as letras: ‘Zé Dirceu, vai pastar!’ ”

· recomendação será feita se petista insistir na desistência de Ciro na disputa pelo Planalto

· deputado do PSB afirma que nada o fará abrir mão da candidatura presidencial

Indagado hoje (3.fev.2010) sobre como reagiria a um pedido do petista José Dirceu para que renunciasse à candidatura ao Palácio do Planalto, Ciro Gomes disse: “Se ele vier me procurar para pedir isso, vou dizer com todas as letras: ‘Zé Dirceu, vai pastar!’ ”.

Trata-se de uma escalada em relação ao que Ciro havia dito ontem (2.fev.2010), numa entrevista a Eugênia Lopes na qual afirmou discordar da “a articulação do Zé Dirceu, do PT. Isso é coisa golpista”.

Instado a explicar o que era “coisa de golpista”, respondeu: “Não vou explicar isso... Quando Lula foi acusado de tráfico de influência, o Zé Dirceu era presidente do PT e abriu inquérito contra Lula na comissão de ética do partido para apurar as relações dele com o compadre Roberto Teixeira. Ele quis acabar com o Lula lá atrás. O Zé Dirceu estava decidido a destruir o Lula, era um trabalho para liquidar o Lula”.

Em resumo: Ciro Gomes dinamitou suas pontes de relacionamento com parcela considerável do PT paulista, no qual é fortíssimo José Dirceu (ex-poderoso ministro da Casa Civil, que caiu em desgraça por causa do escândalo do mensalão).

Para não deixar dúvida, hoje Ciro mandou Zé Dirceu pastar.

Sobre sua pré-candidatura a presidente pelo PSB, Ciro voltou a ser enfático. Disse que não está disposto a pensar em outro projeto. O deputado conversou com repórteres na entrada do plenário da Câmara. “Nada me fará abrir mão [da candidatura à Presidência] porque considero um dever moral apresentar uma alternativa ao cidadão brasileiro”, declarou.

A firmeza da declaração veio acompanhada de elogios a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, a quem Ciro diz ser uma mulher “do futuro”. “No segundo turno é uma possibilidade muito real. Mais do que real, certa, se depender de minha vontade”, disse o deputado sobre uma eventual aliança com Dilma –a ministra esteve hoje (3.fev.2010) no Rio e também fez elogiosa Ciro.

Indagado se sua candidatura serviria apenas para levar a disputa para o segundo turno e favorecer a pré-candidata do governo, Ciro foi enfático: “Eu sou candidato pra ganhar. Fui candidato em 98, em 2002 e só não fui em 2006 para ajudar o presidente Lula”.

Em alusão ao planos do Planalto, que trabalha para que Ciro desista da Presidência, disparou: “A única força que é capaz de fazer com que eu não seja candidato é o meu partido”.

O PSB, partido de Ciro Gomes, reluta em lançar a candidatura própria à Presidência. Em 10.dez.2009, o presidente da sigla e governador de Pernambuco, Eduardo Campos, disse (aqui) que o partido não fará nada que atrapalhe o campo do governo de ganhar as eleições. 

Na próxima quinta-feira (11.jan.2010) representantes de nove partidos (relato no post abaixo), entre eles o PSB, se reunirão em Brasília para pressionar o candidato a desistir do projeto de se candidatar à Presidência.

Ciro não parece muito disposto a mudar de idéia. Se a decisão se confirmar, será a terceira vez que o deputado cearense disputará eleição ao Planalto. Em 1998, ficou em terceiro lugar, com 11% (10,97%) dos votos, atrás de FHC e Lula. Em 2002, ficou em 4º lugar, com 12% (11,97%) dos votos –atrás de Lula, José Serra e Anthony Garotinho.


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Por Fernando Rodrigues

Voracidade do PT é a raiz da novela Ciro Gomes

O PT reclama da reação de Ciro Gomes (na excelente entrevista a Eugênia Lopes), mas a origem da crise está no relacionamento impróprio que se estabeleceu entre a cúpula petista e o PSB.

Lula acertou com Ciro, em 2009, que o assunto "eleição presidencial" seria tratado no final de março. Mas em dezembro e janeiro vários petistas foram para a mídia reclamar de Ciro, dizendo que o PSB estava demorando para se decidir.

A propósito, eis a coluna de hoje (3.fev.2010), na Folha:

FERNANDO RODRIGUES 

No PT, nada ao vosso reino
BRASÍLIA - Ciro Gomes reapareceu ontem em Brasília. Reafirmou sua decisão de ser candidato a presidente. Lembrou a todos ter acertado com Lula uma avaliação do quadro no final de março. 

O PSB, partido de Ciro, só tem a ganhar com a manutenção da candidatura própria a presidente. Terá mais chance de eleger governadores, senadores e deputados. Pode sair maior das urnas. 

Os socialistas herdeiros de Miguel Arraes até poderiam abrir mão desse projeto. O enrosco é a falta de contrapartida. Na oração do PT, só há espaço para o "venha a nós", e nada para o "vosso reino". Tal como está formatada, a coalizão petista é um ativo tóxico para o PSB. Eis os detalhes da proposta lulista: 

1) Sacrifício: Ciro Gomes desiste de disputar o Planalto. Apoia Dilma Rousseff. De quebra, o PSB aceita enfrentar calado a oposição do PT em alguns Estados; 

2) Missão: o PSB despacha Ciro para São Paulo para perder a eleição para o Palácio dos Bandeirantes. Ex-candidato a presidente duas vezes, dono de mais de 10% nas pesquisas nacionais e o primeiro a aderir incondicionalmente a Lula no segundo turno de 2002, Ciro também teria de servir de boca de aluguel do PT: passaria a campanha vituperando contra o PSDB em solo paulista, pois os petistas de modos atucanados como Aloizio Mercadante, Marta Suplicy e Antonio Palocci fazem de tudo, menos se indispor com José Serra; 

3) Prêmio: nenhum. O PSB fica de mãos abanando e se dando por feliz com ministérios de segunda classe e sem expressão política. Assim é o tipo de aliança oferecida pelo PT. É também um prenúncio da voracidade e da hegemonia petista a partir de 2011 se o grupo de Lula vencer a disputa em outubro.

Acrescente-se a esse cenário também o seguinte: se Ciro aceitar disputar o governo de São Paulo, mesmo perdendo terá inserido seu nome na política paulista. Nesse caso, qual é chance de o PT apoiar Ciro como candidato a prefeito paulistano em 2012? Resposta: zero.

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Por Fernando Rodrigues

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