terça-feira, 2 de março de 2010

Revista Istoé - Ciro aposta em segundo turno contra Serra

Revista Istoé - Ciro aposta em segundo turno contra Serra Deputado do PSB ignora apelo do presidente para disputar o governo paulista e lança sua candidatura ao Palácio do Planalto Octávio Costa e Hugo Marques CONFIANÇA Ciro aposta em segundo turno contra Serra O deputado Ciro Gomes (PSB-CE) tem encontro marcado com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva para meados de março, mas o que deveria ser uma conversa decisiva poderá se tornar uma audiência meramente protocolar. Ciro garante já ter tomado a decisão sobre seu destino nas próximas eleições: “Sou candidato a presidente do Brasil”, disse ele em entrevista exclusiva à ISTOÉ. “O Brasil não está bem em termos absolutos e é importante explorar ao máximo as virtudes do sistema eleitoral de dois turnos para debater o futuro do País”, justifica o ex-ministro de Lula, que, apesar da crítica, se diz fiel ao presidente. "Dilma é uma administradora extraordinária, mas isso não é o bastante. Se fosse, a gente contratava um gerente para o Brasil" Mais contido do que de hábito, Ciro, mesmo assim, não deixou de atirar nos potenciais adversários. Tachou o governador de São Paulo, José Serra, de oportunista e carreirista. “Ele não tem compromisso com o Brasil e faz de conta que está do lado de Lula”, acusou, ressaltando que, em 2002, “Serra foi a Dilma do Fernando Henrique”. Para o ex-governador do Ceará, a candidata do presidente Lula não tem bagagem eleitoral, mas é uma administradora competente. O que, a seu ver, não é condição suficiente para governar o País. “Se experiência administrativa bastasse, a gente contratava um gerente.” Aos 52 anos de idade, Ciro Gomes acha que está mais maduro para o novo desafio. "O Serra é oportunista, carreirista e não tem compromisso com o País. Ele quer enganar o eleitor fingindo que é amigo do Lula" ISTOÉ - O sr. é candidato a presidente da República? CIRO GOMES - Sou candidato a presidente do Brasil. O que não é uma novidade para mim nem para ninguém. Já fui candidato duas vezes. Hoje considero que estou muito mais maduro, com a estrada percorrida. Completei 30 anos de experiência na vida pública. Perdi duas eleições para a Presidência e não disputei a terceira porque fui solidário com o presidente Lula na sequência daquela crise chamada de mensalão. Acredito que tenho uma contribuição a dar nesse debate. ISTOÉ - Então a conversa com Lula é para comunicar sua candidatura? CIRO GOMES - Ele sabe que sou candidato. Nossa conversa antecipa cenários. À medida que o tempo passa, as profecias vão se transformando em percepção da realidade. E todos os passos que aconteceram nos últimos tempos só revelaram que minha profecia é mais próxima do real do que a dele. As pesquisas mostram que, sem meu nome, Serra vence no primeiro turno. ISTOÉ - O sr. tem dito que sua candidatura é interessante para a candidata do PT exatamente porque força a realização do segundo turno. CIRO GOMES - Há uma questão aí, sobre o tipo de debate que teremos. Há uma natural vontade no presidente Lula de estabelecer uma eleição despolitizada. Uma eleição que choque a turma do Fernando Henrique contra a turma do Lula. Mas me preocupo gravemente com o prejuízo que seria uma eleição importante como essa – a primeira sem o Lula candidato – acontecer sem o debate do futuro, esquecendo-se que também serão renovados dois terços do Senado e 100% da Câmara. O Brasil não está bem em termos absolutos. ISTOÉ - Em que setores o País tem de avançar mais? CIRO GOMES - De tanto repetir truísmos, a gente acabou não se comovendo mais. Mas o Brasil é o país que tem a pior distribuição de renda entre todas as economias organizadas do mundo. Está perdendo proporção de manufaturados em sua pauta de exportação, o que é um sintoma claro de desequilíbrio nas contas externas do País a médio prazo. Temos um padrão similar ao do mundo desenvolvido, mas pagamos essa conta com exportação de matérias-primas de baixo valor agregado. Essa conta não fecha. Há também a questão da infraestrutura. ISTOÉ - O sr. fará, então, um discurso de oposição? CIRO GOMES - Não é um discurso de oposição. Sou aliado do governo Lula. Não tenho que fazer esforço para demonstrar isso. Agora, todo mundo é amigo do Lula. Eu era solidário ao Lula, porque considerava do interesse nacional, numa hora em que quase o derrubam. Ou que muitos dos seus atuais amigos atrapalhavam ou se esconderam. Mas uma coisa é ser aliado e outra coisa é ser puxa-saco, bajulador. Esse puxa-saquismo tem feito mal ao Lula. ISTOÉ - Está se referindo ao PMDB? CIRO GOMES - Não, estou fazendo uma crítica aos bajuladores e puxa-sacos. ISTOÉ - E se o presidente insistir que o sr. saia candidato ao governo de São Paulo? CIRO GOMES - Ele não fará isso. O Lula tem sido de uma delicadeza e de um respeito muito grandes comigo de longa data. Eu era um jovem prefeito de Fortaleza em 1989, votei no Mario Covas no primeiro turno e no Lula no segundo turno. Desde então, nós temos uma relação de muito respeito. Mas hoje me incomoda a despolitização geral em que estão querendo transformar o processo. Mesmo a oposição está refugiada num oportunismo que vai fazer muito mal ao Brasil. O Serra, que foi a Dilma do Fernando Henrique, simula agora que também é amigo do Lula. ISTOÉ - Serra diz aos seus aliados que não quer debater agora com Lula, prefere enfrentar Dilma mais à frente na campanha. CIRO GOMES - E todo mundo docemente aceita isso. Mas o nome disso é oportunismo. Falta de compromisso com o País, carreirismo. Serra quer enganar uma fração do eleitorado fazendo de conta que está do lado do Lula. ISTOÉ - O sr. acha que tem melhores condições do que Dilma de promover os avanços que considera necessários? CIRO GOMES - Na política, você é a sua circunstância. O que só eu posso fazer é pôr em debate as coisas dizendo o seguinte: eu tenho afinidade com o avanço que o Lula representa. E não é afinidade retórica. Olha onde eu estava e o que fiz nos últimos oito anos em relação ao projeto que o Lula representa. Na hora dura, difícil. E eu posso falar do futuro, das imperfeições e das contradições. Por exemplo, o Lula aguenta as contradições derivadas da coalizão com o PMDB. Sou a favor de alianças. Dito isso, quero dizer que uma aliança precisa se explicar para que se formaliza e em que base se formaliza. A aliança PT/PMDB se destina apenas a conservar o poder. E tornou-se um roçado de escândalos. ISTOÉ - Para o eleitorado pró-Lula, qual é a diferença entre a candidatura Ciro e a de Dilma? CIRO GOMES - A proposta, a experiência e a circunstância política. Dilma é uma candidata forte, mas ainda não teve estrada na seara eleitoral. Enquanto eu já disputei todas as eleições de 1982 para cá, ela vai enfrentar sua primeira eleição. ISTOÉ - Falta experiência administrativa à ministra? CIRO GOMES - Não, aí ela é um talento extraordinário. Mas isso não é o bastante. Se bastasse, a gente contratava um gerente. Tenho grande admiração pela Dilma, ela tem uma biografia extraordinária. Mas colocar os ovos todos numa cesta só não parece adequado. ISTOÉ - O sr. se sente mais preparado que a Dilma para derrotar o Serra? CIRO GOMES - Muito mais. Já aprendi, já errei, já convivi com ele sendo aliado, sendo adversário, já experimentei do fel de ser adversário dele, já caí como um patinho nas armadilhas dele. Isso tudo me deu traquejo, cicatrizes. ISTOÉ - O ex-ministro José Dirceu afirmou que, se o sr. persistir na campanha, o PT não apoiará a reeleição de seu irmão, Cid Gomes. CIRO GOMES - Sou amigo de José Dirceu, mas a situação dele recomenda recato. O José Dirceu está sub judice. ISTOÉ - Será possível tirar voto da candidata de um presidente com quase 90% de aprovação? CIRO GOMES - Não quero tirar voto de ninguém. Pretendo ter os meus votos e que eles sejam mais do que os dos outros, como se faz numa democracia. ISTOÉ - O sr. acha que tem chances de passar para o segundo turno? CIRO GOMES - Uma chance enorme. A maior chance que já tive. Acho que o Serra não será candidato. O risco para ele está ficando visível. É um cara que não sabe fazer política fora de cargo. É um carreirista. Aí o candidato será o Aécio. E então será um barata-voa, que não consigo visualizar. ISTOÉ - O PSDB errou com Aécio? CIRO GOMES - Fez uma opção pelo velho, tendo o novo como opção extremamente interessante para oferecer ao povo brasileiro. Acho que eles vão voltar atrás. O Serra não vai ter coragem de ser candidato. ISTOÉ - Por que o sr. não quis ser candidato ao governo de São Paulo? CIRO GOMES - Não é que eu não queira. Eu considero meio artificial. Nunca foi meu plano. Sinto-me seguro com os assuntos do Brasil. Tomar conta da polícia, do sistema penitenciário, depois do descalabro que tem acontecido em São Paulo, exige muita responsabilidade de mim, que não faço da política um meio de vida. ISTOÉ - O sr. apoia candidatura própria do PSB em São Paulo? CIRO GOMES - Acho que time que não joga não forma torcida. Tenho dito isso aos meus companheiros. Nossa vida é dura, somos um partido de esquerda, mas um partido que de alguma forma rivaliza no campo dos valores com o PT. E agora o PT se sente muito inseguro conosco, porque o PT virou um partido pragmático, desertou da luta dos estudantes, da luta dos intelectuais, dos artistas. ISTOÉ - Em suas campanhas, falou-se muito do seu pavio curto e de sua língua solta, o que o teria prejudicado. O sr. teme que isso se repita? CIRO GOMES - Não temo. Eu caí em algumas armadilhas. Eu era mais treinado do que o Lula em governo, bem avaliado, fui ministro da Fazenda, ajudei a fazer o Plano Real, enfrentei as pressões do Ministério da Fazenda, fui governador mais bem avaliado do país por mais de quatro anos. Mas caí em armadilhas. Aprendi com o Lula que não basta ser talentoso, competente, tem que ser também sereno, tolerante, paciente. Isso vem com o tempo. Não quero me absolver das bobagens que fiz, pois já me desculpei de todas, felizmente nenhuma no campo moral. ISTOÉ - Certamente o sr. vai contar até dez. CIRO GOMES - Não é isso, não. Naquela época eu tinha cabelo, não tenho mais. Fui candidato com 38 anos. Agora tenho 52. Fiquei mais experiente. Passei pela crise do mensalão na coordenação governo. Foi duro. ISTOÉ - O sr. acha que chegou sua hora? CIRO GOMES - No meu coração, eu acho que sim. ISTOÉ - Mas se Dilma for para o segundo turno, terá seu apoio? CIRO GOMES - Somos da mesma turma, em nenhuma circunstância apoio o PSDB. 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